segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O caminho em direção ao outro




Rubinho Pirola
Ou... o verdadeiro caminho da santidade, o exercício eficaz para parecermo-nos com Deus!
E por eles me santifico a mim mesmo, para que
também eles sejam santificados na verdade
”. João 17:19


Durante muito tempo, cri que santificação era o caminho do crente para agradar a Deus. Isso é bíblico, é verdade, mas esse caminho tinha , no final, um sentido que apontava noutra direção: eu mesmo.
Ou seja, queria eu, caminhar para agradar a Deus, mas no fundo, era uma forma de me ver livre de problemas.
Agradando a Deus, eu me veria livre todo tipo de azares: calo, unha-encravada, caspa, notas baixas na escola e contaria ainda com o favor das menininhas bonitas da escola e subiria um degrau como cristão, sendo merecedor de mais medalhas do céu (ou, de um tijolinho a mais no conjunto habitacional celeste, onde tinha garantido uma propriedade sendo construída).
Santidade, era aquele caminho, acreditava eu, de agradar a Deus e isso era traduzido mais por coisas que teria de deixar de lado e que me eram tão gratas, para no fim ser beneficiado de algum modo. Como por exemplo: tinha de deixar de lado os bailaricos da escola, o cabelo comprido que os “boyzinhos” da moda usavam, o não ir aos clubes nos finais de semana, pois Domingo era o “Dia do Senhor” e, santo que é santo, não pode faltar à igreja e outras coisitas.
Santidade era mais um tipo de “vacina” para ver se ficava livre de dores de cabeça.
Santidade era mais uma tentativa de “comprar” o favor de Deus, do que um caminho que nos leva para cima, um exercíco físico, ou mais, uma cirurgia plástica para ficarmos cada dia mais com a cara e o jeito de Deus. E isso, descobri só bem depois, ser a mais pura cascata (para os portugueses, mentira, treta e da brava!).
Olhando para esse verso, onde está registrada a oração linda que Jesus dirigiu a Deus por cada um de nós, ele nos deixa uma dica tremenda: santidade é algo que diz respeito, que dirige o nosso olhar de nós mesmos, para… os outros!
“… por ELES me santifico!” É por nós. E o que significa isso?
Santificar-se para Jesus, era algo a ser buscado que beneficiaria as pessoas, não a si próprio! Tinha a ver com o botar a sua própria agenda, os benefícios, o seu prazer, em segundo plano… em função dos outros.
Não tinha a ver propriamente com Jesus ter de cortar o cabelo à militar para não escandalizar a irmãzinha da sinagoga, ou em evitar de ir à padaria no Shabat, fazendo esforço físico em dia de paragem total, ou em realizar todos aqueles ritos para garantir uma recompensa celestial; mas em ele abster-se de um prazer até legítimo, desde que alguém ganhasse.
Por exemplo, tais como deixar de ir à pesca com Pedro e os outros companheiros para ir até a casa do centurião para curar-lhe o servo acamado. Ou então deixar de provar um bacalhau à lagareiro (com muito azeite e alho, na brasa!) com os discípulos, provar aquele vinhozinho de safra especial e jogar uma boa prosa (talvez acerca do céu, ou até não, podia ser só para rirem, contando piadas de fariseus hipócritas, de religiosos vazios - tal como contamos as de papagaio ou de sogras), na companhia gostosa de cem (100!) dos seus amigos para ir à procura de um (1!) amigo em crise, num beco qualquer…
Ao invés de ganhar pontos como julgamos ser possível obter com “exercícios” solitários e vazios de significado na tentativa de agradar a Deus, sabia ele que, na contabilidade do Pai, quem caminha na direção do irmão, caminha na verdade, na direção dos céus e do… coração do Senhor Todo Poderoso.
Para Jesus, quanto mais somos de Deus, tanto mais somos dos outros.
Ser santo, santificado, para Jesus, não significava somente ser separado, exclusivo, mas separado e exclusivo para um fim apenas – ser bênção para os outros, o pobre, o enfermo e o perdido, custasse literalmente o que custasse.
Santificar-se, no sentido prático do termo significa certamente topar o sujeito chato, o irmãozinho mau cheiroso, o patrão tirano, a “sogra cascavel”,… por de lado as nossas conveniências, as nossas preferências no armário e o “salva-te a ti próprio”, enterrado a sete palmos, para ser uma espécie de sacrifício vivo em favor do bem de outrem.
Assim, aprendi uma lição. Se quero mesmo agradar a Deus e ser santo, parecido com Ele, ganhar o seu jeitão, a sua cara… então tenho de me dedicar ao próximo. Como Jesus fez. E todo mundo ver em nós, como viu, afinal, a cara de Deus estampada na de Cristo.

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