sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Minas pode ter mais café impróprio para consumo


Em 241 amostras, Procon-MG encontrou 74 inadequadas para venda, mas estado tem mais de mil marcas e órgão admite que pelo menos 30%, ou 300, devem apresentar algum problema


 Luciane Evans /




O número de marcas de café impróprias para o consumo em Minas Gerais pode ser maior do que as 74 indicadas na pesquisa, divulgada ontem pelo Procon-MG, do Ministério Público de Minas Gerais. O órgão analisou 241 amostras entre 2014 e 2015, o que corresponde a 25% do total existente em Minas, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). De acordo com a entidade, Minas é o maior estado produtor da bebida no país e é estimado que haja cerca de 500 empresas atuantes no estado, sendo que cada uma delas fabrica uma média de duas ou mais marcas. O universo, portanto, pode chegar a mais de mil nomes no mercado. O Procon informou que, ao levar em conta a totalidade cafeeira mineira da Abic, a reprovação deverá manter um percentual de 30%, chegando a cerca de 300 marcas não indicadas para consumo.

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Mineiros bebem café impróprio para consumo
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De acordo com o documento do Procon, o consumidor mineiro está sendo enganado comprando “gato por lebre” e correndo riscos graves de saúde. Isso porque, nas análises, foram encontrados elementos estranhos, impurezas, sedimentos, além de larvas e parasitas. Parte delas ainda tem a substância ocratoxina A, considerada cancerígena. Mas o problema pode ser ainda maior e atingir mais consumidores.

Segundo o Procon-MG, quando o relatório foi feito, entre os anos de 2014 e 2015, o órgão procurou o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) que o indicou 300 torrefações em Minas, que, então, fizeram parte da análise, sendo que, no máximo, apenas uma marca de cada foi analisada, chegando ao total de 241 amostras de café torrado e moído, ou seja, 80% das indicadas pelo ministério.

No entanto, conforme comenta o diretor-executivo da Abic, Nathan Herszkowicz, o estado é o maior produtor de café do país e há uma estimativa de que haja 500 indústrias fabricantes da bebida. Ele afirma que uma mesma empresa é detentora de mais de uma marca. Questionado pelo Estado de Minas se haverá novos testes para abranger a realidade mineira, o Procon informou não pode divulgar se haverá ou não novas análises. O promotor e coordenador do Procon do Ministério Público, Fernando Ferreira Abreu, disse que, estatisticamente, a reprovação de 30% caberia ao restante das marcas.

SELO A Abic mantém desde 1989 o Programa de Autorregulamentação do Selo de Pureza, que coleta e analisa 3 mil amostras de café por ano, denunciando as marcas irregulares e penalizando as associadas que forem detectadas impuras. Das 74 consideradas impróprias para o consumo pelo Procon-MG, 12 marcas têm o selo Abic, como garantia de qualidade e confiança. “Dessas 12, seis já foram excluídas da Abic, outras duas estão respondendo a processo por impurezas e uma fraudou o selo. As três restantes estão sendo analisadas”, comenta Herszkowicz.

A entidade publicou nota em seu site parabenizando o Procon -MG pelo trabalho. E, de acordo com Herszkowicz, especialmente em Minas, por abranger uma quantidade grande de marcas de café, o Sindicato da Indústria do Café (Sindicafe-MG) montou um laboratório especial para análise das amostras, sendo feitas até duas por ano. “Desde 2010, estamos, junto com o Sindicafe, denunciando as irregularidades no ramo. Quando há anormalidades, as empresas recebem penalidades que vão desde uma advertência até a expulsão da Abic, ficando proibida de usar o selo. No caso daquelas que não são associadas, a entidade não tem como penalizar, mas a Abic comunica a ela, por escrito, sobre as impurezas encontradas e pede explicações sobre o ocorrido”, esclarece.

Ainda segundo Herszkowicz, os dados do Procon-MG são muito semelhantes aos estudos da Abic. “São 116 marcas associadas, 89% estão próprias para consumo. As outras 12 representam 4%”, afirma. Em relação às 74 reprovadas, ele analisa que são marcas pequenas e, geralmente, com vendas locais.

PUNIÇÕES De acordo com o levantamento do Procon MG, a principal irregularidade encontrada entre as 74 marcas reprovadas foi a presença de impurezas como cascas, paus e outros elementos, totalizando 27,8% das amostras. Já sobre a presença da substância cancerígena, 4,2% das análises apresentaram a existência dela e também foram consideradas impróprias para serem consumidas. O levantamento detectou ainda que em 6,04% do peso total do produto não era de café. Ou seja, o consumidor pagou por café, mas levou também outros produtos e substâncias dissolvidos na embalagem. Em 2,1% das amostras foram encontradas elementos estranhos como milho, por exemplo. Nesse caso, a adição é considerada adulteração.

Todos os produtores que apresentaram problemas com as amostras coletadas estão sendo notificados a corrigir as irregularidades e também estão sendo processados. Eles também serão penalizados com o pagamento de multas, conforme já informou o Procon-MG.


CORREÇÃO
A reportagem publicada ontem sobre as marcas de café impróprias para o consumo foi ilustrada equivocadamente por uma foto de arquivo em que aparece um copo com a marca Academia do Café. A foto não condiz com a realidade. A Academia do Café, que trabalha com produtos de alta qualidade, não está na lista de marcas impróprias para o consumo elaborada pelo Procon-MG. O Estado de Minas pede desculpas pelo engano.
Fonte : Estado de Minas

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